Gabriella Lima Andrade de Sousa
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
A ramulose do algodoeiro, doença introduzida no Brasil em 1936, no estado de São Paulo, é causada pelo fungo (Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides), sendo considerada uma das doenças do algodão que merece destaque. Desenvolve-se em ambientes com temperaturas entre 25ºC e 30ºC, umidade relativa elevada (cerca de 80%), alta pluviosidade e boa fertilidade do solo.
A doença ocorre preferencialmente em plantas mais jovens de algodão, entretanto pode atacar em qualquer fase do ciclo, causando sérios prejuízos econômicos por conta da má formação da planta e de suas estruturas morfológicas. Quando a doença se desenvolve no início do cultivo, as plantas ficam totalmente atrofiadas e com porte reduzido. Dessa forma, boa parte da energia destinada para a frutificação é consumida, diminuindo a formação das fibras de algodão, afetando consequentemente a produção final.
O fungo causa a necrose do meristema apical provocando a morte do algodoeiro e o aumento da produção de ramos laterais, tornando a planta menor, com nós grossos e internós curtos. A planta passa a apresentar um número excessivo de folhas e a cultura adquire ao longo de seu crescimento, um aspecto de superbrotamento (figura 1). Nas folhas novas e nas hastes (principais e laterais), a doença causa manchas necróticas de formato circular e/ou alongado. O tecido necrosado tende a se desprender, deixando pequenas perfurações, características comumente conhecidas como “mancha estrelada” (figura 2). Como consequência, os tecidos foliares apresentam crescimento desigual com aspecto enrugado. As plantas doentes são facilmente identificadas, pois apresentam folhagem densa, de coloração escura e com poucas estruturas que contenham fibra do algodão.
Figura 1: Algodoeiro com sintoma de superbrotamento
Figura 2: Algodoeiro com sintoma foliar da ”mancha estrelada”
A disseminação da ramulose ocorre através água, sementes, solos contaminados, vento, trânsito de pessoas e implementos agrícolas na propriedade. O fungo pode contaminar a semente do algodão internamente, apresentando estruturas fúngicas dormentes em seu interior e, externamente, na sua superfície. No solo o fungo sobrevive até 9 meses, possibilitando novas infecções de uma safra para outra. As áreas de cultivo contaminadas servem de abrigo para o patógeno, que desenvolve estruturas de resistência (esporos) e de sobrevivência no solo e em restos culturais do algodoeiro, repetindo seu ciclo no início de um novo plantio.
A prevenção mais importante contra a doença é a utilização de sementes sadias, pois podem introduzir patógenos em novas áreas agrícolas, contaminar solos e até mesmo reintroduzir a doença em áreas controladas anteriormente. Para serem consideradas sadias as sementes devem apresentar boas condições genéticas de resistência a patógenos, fisiológicas com elevada taxa de germinação e vigor, e sanitárias. Quando a propriedade apresentar reboleiras, o controle da doença deve ser imediato, por pulverização foliar, devido à alta capacidade de disseminação da doença, evitando assim que a área se torne fonte de inoculo, contaminando outras áreas da região produtiva.
Uma forma de manejar a ramulose na área de cultivo é com a rotação de culturas, pois promove a redução do patógeno no algodoeiro pela falta de alimento, abrigo, além de interromper o ciclo biológico do fungo. O algodão pode ser rotacionado com culturas diversas como feijão, soja, milho, aveia, nabo e sorgo. Pode ser feita também alternando anualmente espécies vegetais em uma mesma área agrícola. Essa prática possibilita a melhoria das características físico-químicas do solo através da diversificação das culturas cultivadas, além de auxiliar no controle de plantas invasoras, na reposição de matéria orgânica e na proteção do solo em relação aos fatores ambientais degradantes.
Por todo o exposto, nota-se a importância econômica da ramulose no algodoeiro. No controle da doença, além da prevenção, um bom acompanhamento da área cultivada e manejo fitossanitário são imprescindíveis para garantir uma boa produção. Por isso, é fundamental o manejo adequado da doença e da cultura como um todo.