Gabriella Lima Andrade de Sousa
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
O algodão é alvo constante de diversas pragas. Helicoverpa, pulgões e mosca-branca são alguns exemplos de inimigos que os cotonicultores enfrentam diariamente. Mas nenhum deles é tão ameaçador e prejudicial à produtividade dessa cultura quanto o bicudo-do-algodoeiro. Esse destaque se dá em função de sua alta capacidade reprodutiva, do elevado poder destrutivo, da dificuldade de controle e também pelos danos causados ao produto final destinado à comercialização.
O besouro bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) pertence à família Curculionidae, que possui a característica de apresentar o rostro bem desenvolvido, alvo da origem do nome “bicudo”. O inseto adulto possui comprimento médio de 7 milímetros, com variação de 3 a 9 milímetros, e uma largura equivalente a um terço do comprimento. São de coloração cinzenta ou castanha e mandíbulas afiadas, utilizadas para perfurar o botão floral e a maçã dos algodoeiros (figura 1). Os ovos, larvas e pupas se desenvolvem no interior dos botões florais e maçãs. O ciclo de vida de ovo a adulto é completo em cerca de 20 dias e podem ocorrer de 4 a 6 gerações do besouro durante uma safra.
Figura 1: Adulto do bicudo-do-algodoeiro em botão floral de algodão
Esta praga é específica do algodoeiro, por possuir apenas esta espécie de planta que proporciona condições para que este inseto complete todo o seu ciclo de vida. Já foram relatados outros hospedeiros alternativos desta praga, principalmente plantas daninhas do gênero Cienfuegosia, mas o inseto não consegue se reproduzir se alimentando exclusivamente destas plantas.
Os danos são diretos e as injúrias causadas por esta praga decorrem da utilização das estruturas florais e frutíferas do algodoeiro para a oviposição dos adultos e alimentação tanto das larvas como dos adultos do bicudo-do-algodoeiro. As fêmeas furam o botão, ovipositam no interior do furo e selam este orifício com substâncias gelatinosas, dando o aspecto de um “calo” no botão. Danos de oviposição (figura 2) não afetam imediatamente o botão floral, que continua se desenvolvendo normalmente até o início do segundo ínstar larval e, posteriormente, o botão floral cai da planta. Os danos de alimentação (figura 3), os adultos furam os botões, alimentando-se dele e comumente deixam serragem nas pétalas do botão atacado, comprometendo o desenvolvimento normal do botão, o que reduzirá significativamente a produtividade das plantas e a qualidade final do produto.
Figura 2: Botão floral de algodoeiro com danos de oviposição pelo bicudo-do-algodoeiro.
Figura 3: Botão floral de algodoeiro com danos de alimentação pelo bicudo-do-algodoeiro
Para reduzir os danos existem várias estratégias de manejo do bicudo-do-algodoeiro. A mais eficiente é o monitoramento das bordaduras dos talhões, pois o inseto inicia a infestação das lavouras pelas bordas dos talhões. A partir da detecção do inseto, deve-se fazer a aplicação de inseticidas químicos. Em áreas com histórico de grandes infestações da praga, recomenda-se aplicações no momento que as plantas começarem a emitir o primeiro botão floral. Pelo fato das larvas deste inseto se desenvolverem no interior dos botões, é fundamental o monitoramento constante de cada talhão, a fim de reduzir os danos causados por esta praga.
Todavia, o controle químico só atinge a eficiência necessária se outras estratégias forem adotadas em conjunto. Destaca-se a destruição adequada dos restos culturais ao final do ciclo da cultura, para impedir rebrotas e consequente manutenção dos adultos na área de cultivo e o uso de cultivares precoces. Em casos extremos, pode-se fazer a catação de botões florais caídos ao solo no decorrer do desenvolvimento da cultura, mas tal estratégia acarreta em mão-de-obra em grandes quantidades, o que pode onerar o produtor. Também recomenda-se o seu controle na entressafra, utilizando o tubo mata bicudo (um tubo de papelão impregnado com substância atrativa e um inseticida que deve ser posicionado 1 metro acima do nível do solo), que reduz drasticamente a população do inseto na área e, consequentemente, os danos no início do ciclo de cultivo da próxima lavoura.
Diante do artigo apresentado, pode ser observado que existem várias medidas para combater a praga da cotonicultura, mas todos devem ser utilizados no momento adequado, de forma integrada, ou seja, considerando todo o ambiente e o sistema de cultivo adotado e com a supervisão de um responsável técnico.
1 Comment
Bom dia!
Como confeccionar os TMB? Qual tipo de papelão usam e se é somente papelão?
Se puder informar, no aguardo…