Gabriel Castillo
Universidade Federal de Lavras-3rlab
A doença é causada pelo fungo Ustilado scitaminea que parasita os tecidos meristemáticos da planta. A doença foi relatada pela primeira vez na África do Sul e no Brasil só foi identificada em 1946. Entretanto, causou enormes perdas na década de 80.
Sabe-se que essa doença é uma das principais da cultura, e tem enorme capacidade de disseminação e causa enormes prejuízos quando incidem em variedades com resistência baixa ou suscetíveis. Sendo assim, o uso de variedades sem tomar maior conhecimento sobre seu comportamento diante do carvão, ou até mesmo a negligência no momento de plantio e o uso de materiais sem a devida segurança fitossanitária poderá gerar grandes prejuízos.
O carvão pode causar diversos danos ao canavial, sabe-se que as perdas podem chegar a 100% em variedades suscetíveis e em condições extremas. Algumas regiões produtoras podem passar anos sem relatar a ocorrência dessa doença, entretanto esta pode aparecer e devastar de maneira agressiva as áreas em que se utiliza de variedades suscetíveis. Os prejuízos estão relacionados com a redução na produção, bem como perdas na qualidade do caldo.
O fungo causador (Ustilado scitaminea) é um parasitóide muito específico para a cultura da cana, este que penetra nas regiões meristemáticas da planta e podendo se tornar sistêmico. Sabe-se que seu ciclo de vida pode durar de 50 a 100 dias, fase que vai do ataque ao interior da planta até a esporulação (chicote). Entretanto, esse ciclo pode variar de acordo com as condições ambientais.
Sintomas
O carvão é uma das doenças com maior facilidade de identificação. Uma touceira de cana que é afetada pelo carvão, fica com aspecto parecido de uma touceira de capim com colmos curtos e finos (figura 1). A principal manifestação da doença é um apêndice de cor preta que cresce por meio de modificações que ocorrem na gema apical. A esse apêndice dá se o nome de chicote, este possui de 20 a 80 cm de comprimento e de 0,5 a 1 cm de diâmetro. O chicote (figura 2) é composto por parte do tecido da planta e parte do tecido do fungo, inicialmente esse apresenta coloração prateada e posteriormente adquire cor preta, devido a maturação dos esporos. Deste chicote que serão liberados os esporos que irão causar novas infecções. Sabe-se que este aparece em plantas com idade entre dois e quatro meses, sendo a fase crítica quando a planta está com seis, sete meses.
Figura 1- Touceira de cana com colmos curtos e finos causados pelo carvão.
Figura 2- Chicote na gema apical da cana de açúcar.
Caso o aparecimento do chicote for precoce, nos brotos da touceira, este poderá matar vários brotos ou até mesmo a touceira inteira. Antes de apresentar o chicote, as plantas infectadas irão apresentar folhas estreitas e curtas, colmos menos espessos e touceiras sem superbrotamento.
Disseminação
Sabe-se que cada um desses chicotes pode produzir de 3 a 5 bilhões de esporos. A disseminação destes ocorre principalmente pelo vento, água de chuva, irrigação e implementos.
O fungo penetra através das gemas de brotos jovens e infectará a região meristemática. As plantas infectadas podem produzir o chicote naquela mesma estação, ou o fungo pode permanecer dormente e os chicotes aparecerem somente quando a gema for utilizada para novo plantio. Além disso, os esporos depositados no solo podem infectar as soqueiras ou as gemas em um novo plantio.
Sob condições de umidade e temperatura propícias a maior parte dos esporos germina e se não tiverem contato com o hospedeiro não sobreviverão. Já em condições de secas prolongadas, os esporos podem se manter viáveis por até dois anos. Essas estações propiciam a deposição dos esporos sobre o solo e com a volta das boas condições de umidade as infecções ocorrem em maior número e de maneira mais eficiente.
Controle
Sendo assim, fica evidente que as condições ambientais determinam o surgimento de epidemias da doença. Diante disso, condições de estresse, mesmo que em variedades resistentes poderão apresentar sintomas da doença. Como foi visto acima, condições de estresse hídrico e maiores temperaturas favorecem a incidência do fungo. Além disso, a maior disseminação da doença ocorre por meio dos chicotes e uso de mudas infectadas no plantio.
Diante disso, o uso de variedades resistentes é o método mais eficiente de controle. Além disso, é importante o uso de mudas sadias e certificadas que passaram por um tratamento térmico para controle da doença associado ao uso de fungicidas sistêmicos. Entretanto, quando for utilizado variedades de resistência intermediária deve ser empregado o monitoramento através de operações conhecidas como roguing (eliminar plantas doentes).