Lucas Machado – Universidade Federal de Lavras – 3rlab
Há cerca de 11 anos pesquisadores da Embrapa trabalhavam na identificação da soja louca II que foi reconhecida como uma doença causada pelo nematoide Aphelenchoides sp. A identificação desse agente causal teve uma grande importância para o agronegócio, visto que a doença chegou a apresentar nas safras de 2009/2010 perdas de até 60% na produção em lavouras de soja atingidas.
As perdas causada por essa doença se iniciou nas safras de 2005/2006, trazendo grandes prejuízos principalmente em regiões quentes e de muita chuva como os estados do Mato Grosso, Maranhão, Tocantins e Pará. Logo no surgimento do problema os pesquisadores já descartaram a possibilidade do agente causal ser o percevejo (causador da soja louca I), distúrbios fisiológicos ou problemas nutricionais da planta.
Para descobrir o agente causal da doença o pesquisador da Embrapa Soja Maurício Meyer reproduziu os sintomas desta doença em plantas sadias através da inoculação com Aphelenchoides sp. (figura 1), o que acabou apontando que a presença desse gênero de nematoide tem relação direta na manifestação do problema.
Figura 1 Nematoide Aphelenchoides visto no microscópio. Fonte: Epamig.
Os pesquisadores afirmam que os sintomas da soja louca II podem ser observados no início da fase reprodutiva da cultura, que apresentam afilamento, enrugamento e engrossamento das folhas do terço superior das plantas (figura 2). As folhas com sintomas apresentam coloração mais escura e menor pilosidade em relação às normais. As hastes podem exibir deformações e engrossamento dos nós e as vagens podem apresentar lesões, rachaduras, apodrecimento e redução do número de grãos.
Figura 2 Soja apresentando sintomas da doença. Fonte: Embrapa.
É possível observar ainda que as plantas afetadas apresentam uma alta incidência de abortamento de vagens, o que acaba induzindo uma nova floração e sintomas de superbrotamento. “Esse abortamento é mais intenso na parte superior das plantas, diminuindo em direção à base, o que impede o processo natural de maturação, permanecendo a planta verde mesmo após a aplicação de herbicidas dessecantes”, relata o pesquisador da Embrapa Soja. A ocorrência da doença foi maior em anos com altos índices de chuvas, na entressafra e início de safra.
Para o manejo ou até mesmo para encontrar um princípio ativo que controle essa doença são necessários mais estudos para compreender a dinâmica e a biologia do nematoide, entretanto, segundo os pesquisadores já é possível tomar algumas providencias para o manejo. Atualmente, sabe-se da existência de 180 espécies de Aphelencoides, sendo assim, é preciso investigar qual a espécie que realmente está prejudicando as lavouras de soja.
O pesquisador Maurício Meyer acredita que o manejo da área deve ser a primeira linha de atuação. O preparo do solo por meio do gradeamento da área, em que a terra é revolvida e a cobertura vegetal é integrada ao solo, pode ser uma boa alternativa, mas ainda não tem dados que comprovem sua eficiência. Entretanto, muitas propriedades adotam o sistema de plantio direto e essa ação poderia ser um entrave. Outro fato importante é que alguns outros nematoides podem ser espalhados por meio do revolvimento do solo, assim, não podemos seguir uma “receita de bolo”, cada caso deve ser estudado em particular.
O estudo, a identificação e o controle de plantas invasoras é outro ponto de grande importância. As plantas invasoras podem atuar como hospedeiras e ainda proporcionar um ambiente favorável ao aparecimento do nematoide.
Existe a possibilidade de mudança do nome “soja louca II”, que surgiu pelo fato dessa doença apresentar sintomas semelhantes à soja louca I, identificada em 1970 e que estava associada ao ataque do percevejo. Uma das sugestões para o novo nome é “haste verde da soja”.