A qualidade da silagem de milho impacta diretamente na quantidade de concentrado utilizado na dieta – quanto melhor a silagem, menor necessidade de concentrado. Assim, a atenção na produção de silagem é importante para reduzir custos com alimentação, item mais oneroso na produção de leite.
Técnicas de análise da qualidade da silagem baseadas em parâmetros importantes do alimento, tais como tamanho de partículas, processamento de grãos, percentual de amido, pH, perfil de ácidos graxos e presença de amido nas fezes, ajudam a promover melhorias no processo de produção de silagem que são economicamente justificáveis.
Tamanho de partículas e processamento de grãos
O correto tamanho de partícula da silagem permite um melhor perfil de fermentação ruminal, além de estimular a ruminação.
A peneira da universidade da Pensilvânia possibilita o ajuste do tamanho de corte da ensiladeira. Esta ferramenta consiste em um grupo de 3 peneiras que são acopladas verticalmente, uma em cima da outra: a peneira com poro maior (19 mm), a peneira com poro médio (8 mm), a peneira com poro pequeno (1.18 mm) e a parte de baixo, que coleta o material (Figura 1).
Figura 1 – Peneiras da Universidade da Pensilvânia
No momento da ensilagem, deve ser coletada uma amostra de 200 gramas (aproximadamente duas mãos cheias) do material picado e colocar na peneira. Depois, deve-se chacoalhar a peneira 40 vezes – 5 vezes para cada lado, com uma repetição (Figura 2). Finalizado esse processo, o material contido em cada peneira deve ser pesado. Como exemplo, observe uma carreta com o material picado corretamente (Carreta 4), a próxima em que o material está muito longo (Carreta 5) e a seguinte, após amolar as facas da picadeira (Carreta 6) na tabela 1.
Figura 2 – Movimentos a serem realizados pela pessoa responsável pela determinação do tamanho de corte no silo. Cada lado da peneira necessita de 5 movimentos com uma repetição, totalizando 40 movimentos.
Tabela 1 – Exemplo de amostragem de milho picado em três carretas. Carreta 4 dentro da meta, Carreta 5 acima da meta (muito longo), Carreta 6 dentro da meta
Carreta 4 |
Carreta 5 |
Carreta 6 |
Meta |
|
Peneira 19 mm |
10 g/ 5% |
20 g/ 10% |
8 g/ 4% |
3 a 8% |
Peneira 8 mm |
120 g/ 60% |
150 g/ 75% |
125 g/ 62% |
45 a 65% |
Peneira 1.18 mm |
60 g/ 30% |
20 g/ 10% |
50 g/ 25% |
20 a 30% |
Parte baixo |
10 g/ 5% |
10 g/ 5% |
17 g/ 9% |
< 10% |
Total |
200 g |
200 g |
200 g |
100% |
Essa prática deve ser realizada em cada carreta que é descarregada no silo.
Outra ferramenta, que também deve ser utilizada em cada carreta que é descarregada no silo, é a análise do processamento dos grãos da silagem. Para isto, é preciso um balde com água preenchido até a metade. Colete novamente duas mãos cheias do material picado da carreta e coloque no balde com água. Mexa o material e vá removendo o material que está boiando (planta) até que o balde contenha somente os grãos. Neste momento, jogue toda a água fora e coloque os grãos em uma superfície branca. Compare com a figura 3, onde se pode visualizar que os materiais possuem processamentos distintos: o material da esquerda menos danificado e o da direita, mais danificado. A recomendação é que o milho esteja o mais próximo possível ao material da direita.
Figura 3 – Resultado do processo de remoção da forragem do material picado. Três processamentos de grãos podem ser visualizados, somente o material da direita está processado corretamente.
Uma prática adicional é coletar uma amostra da silagem e enviar ao laboratório para análise de processamento de grãos (KPS). Nesta análise, o a silagem é secada e passada por uma peneira de 4.75 mm. No material que passou na peneira (menor que 4.75 mm), é realizada uma análise de amido. O objetivo é que a silagem contenha mais de 70% de amido no material que passou na peneira de 4.75 mm (Tabela 2). Como exemplo, uma silagem com KPS de 80% significa que, da quantidade que passou pela peneira, 80% era amido. Portanto, uma silagem com processamento de grãos excelente.
Tabela 2 – Meta para análise de processamento de grãos da silagem (KPS)
% de amido no material < 4.75 mm |
KPS |
> 70 |
Excelente |
50 a 70 |
Adequado |
<50 |
Ruim |
Verificando se o processo de ensilagem foi correto:
Para verificar se o processo de ensilagem foi realizado com sucesso, pode-se determinar pH e perfil de ácidos graxos da silagem. Para utilizar esta ferramenta, uma amostra da silagem deve ser enviada ao laboratório para que as seguintes análises sejam realizadas: pH, ácido lático, ácido acético, ácido propiônico, ácido butírico, ácidos totais e amônia (Tabela 3). A comparação do resultado da silagem produzida com a meta apresentada pode gerar oportunidades para a melhoria na produção de silagem do próximo ano.
Tabela 3 – Meta de perfil de fermentação para silagem de milho
Parâmetros |
Meta |
%MS | |
Ácido Lático |
3-6% |
Ácido Acético |
< 2% |
Ácido Propiônico |
0-1% |
Ácido Butírico |
< 0.1% |
pH |
< 4 |
Amônia (% Nitrogênio) |
< 5% |
Medindo a qualidade da silagem nos animais
A silagem no silo não é a mesma que chega ao rúmen do animal, devido a vários fatores: manejo de silo, tempo entre desensilagem e oferecimento, qualidade da mistura, espaço de cocho, etc. Assim, o local mais importante para medir a qualidade da silagem produzida na fazenda são os próprios animais.
Para isso, a primeira análise que pode ser utilizada é a porcentagem de amido nas fezes. Esta ferramenta permite ao técnico verificar se o amido que o animal ingeriu foi utilizado ou foi excretado. A meta para vacas leiteiras é que menos de 5% de amido esteja presente nas fezes. No Brasil, há fazendas com alta produção, animais saudáveis, sem a utilização de grão úmido na dieta, atingindo esta meta. Portanto, este valor, apesar de ser uma meta americana, também é atingível em nossas fazendas.
A segunda ferramenta que pode ser utilizada na fazenda é a observação de ruminação dos animais. Em condições normais, metade dos animais do lote deve estar ruminando, exceto quando estiverem comendo ou estiverem sob estresse térmico.
Impacto econômico:
Veja na Tabela 4 a comparação econômica entre duas silagens com processamentos distintos de grãos. A silagem A, com o grão de milho processado adequadamente, e a silagem B, com o grão de milho processado incorretamente. Para esta simulação, foram utilizados os seguintes parâmetros: 600 kg peso vivo, 80 DEL, 3,5% Gordura e 30 kg de leite. Observe que, quando a silagem possui grãos que foram danificados no processo de ensilagem, a expectativa é de aumentar a produção das vacas em aproximadamente 1 kg de leite. Essa produção é refletida em um maior retorno sobre custo alimentar (RSCA) com a utilização da silagem A. Esse valor pode ser utilizado para uma decisão sobre processar ou não o grão da silagem. Como exemplo, imagine uma fazenda com 100 vacas. Assumindo aumento de 1 kg de leite/vaca com o processamento, têm-se 100 kg a mais. No ano, o ganho é de R$36.500,00, assumindo preço do leite a R$1. Se o valor que se paga para o processamento do milho no momento da ensilagem for menor do que este valor, já valeu a pena.
Tabela 4 – Comparação entre o efeito do processamento de grãos da silagem na produção de leite.
A |
B |
|
EM (kg leite/dia) |
30,87 |
29,92 |
RSCA, R$/dia |
20,87 |
19,92 |
Custo, R$/dia |
10 |
10 |
Silagem A: silagem com grãos processados corretamente (KPS > 70%).
Silagem B: silagem com mau processamento dos grãos (KPS 45%).
Composição da dieta (%MS): 10 kg silagem de milho, 5 kg milho moído fino, 2,5 kg caroço de algodão e 3 kg de farelo de soja.
EM: Energia metabolizável disponível para produção de leite
RSCA: Retorno sobre custo alimentar.
Marcelo Hentz Ramos, PhD-Diretor 3rlab, consultor Rehagro