Diovana M. Santos
Universidade Federal de Lavras- 3rlab
A vitivinicultura no Brasil está presente desde o extremo sul do país até as proximidades da linha do Equador, com destaque para duas regiões: o estado do Rio Grande do Sul, correspondendo a cerca de 90% da produção nacional; e os polos de frutas de Petrolina-PE e Juazeiro-BA. O aproveitamento desses bagaços (figura 1) pode ser uma alternativa para baratear os custos de produção, com substituição total ou parcial dos ingredientes habituais e mantendo resultados satisfatórios, já que cerca de 12-15% do peso total é descartado.
Figura 1- Bagaço de uva.
O bagaço é constituído por engaços, folhelho e grainha ricos em fibras, proteínas, açúcares, minerais e ácidos graxos insaturados, com características nutricionais como alta concentração de carboidratos fibrosos e cerca de 15% de proteína bruta. Grande aporte de ácido linoleico e compostos fenólicos com capacidade antioxidante (para vacas em período final de lactação, recomenda-se apenas 10% para não alterar a composição do leite, levando a aroma e sabor desagradáveis). O folhelho é a porção utilizada na alimentação animal, que é basicamente constituído das películas após a desidratação e separação dos engaços e grainhas, geralmente apresenta umidade inferior a 13% e celulose inferior a 22%.
Esses bagaços podem ser divididos em dois grupos: o bagaço doce ou fresco – que provém da elaboração de vinhos de “bica aberta”, não fermenta com os mostos, contendo essencialmente líquido açucarado e pouco ou nenhum álcool. Assim, antes de submeter os bagaços brancos à destilação, torna-se indispensável deixá-los fermentar, a fim de que haja transformação do açúcar em álcool- e o bagaço tinto ou fermentado – subproduto da vinificação por maceração, o mosto é fermentado em contato com as partes sólidas, estas, depois de prensadas, contêm certa quantidade de vinho e, por consequência, de álcool.
Podemos citar dois fatores limitantes na utilização desse alimento: o alto teor de umidade, que pode ser solucionado com o armazenamento em forma de silagem; e outro ponto é o alto teor de taninos, que são menos nocivos para ruminantes que transformam substâncias tóxicas em produtos simples e não tóxicos.
Os resíduos da vinificação têm uma média de degradação ruminal da ordem de 54,36%, com alto teor mineral (10,99%) e teor de FDN de 52,53%. A adoção do bagaço ainda leva a uma diminuição na produção de metano no rúmen, sem diminuir o desempenho produtivo dos animais.
Um estudo realizado na Austrália, utilizando vacas leiteiras em fase final de lactação mostra que a substituição de feno de alfafa por bagaço de uva, não compromete a produção e nem a composição do leite e diminui emissões de metano (20%) devido aos óleos, taninos condensados e outros componentes que geram mudanças na população microbiana do rúmen (tabela 1).
Tabela 1- Efeito da substituição de feno de alfafa por bagaço de uva na dieta de vacas leiteiras.
É importante observar a questão logística, pois em longas distâncias, o volume e peso desse subproduto podem encarecer o frete e, portanto tornar-se um fator limitante. Sendo assim, é mais interessante à adoção desse alimento quando o produtor está localizado próximo às indústrias vinícolas.