Gabriel Castillo
Universidade Federal de Lavras-3rlab
De acordo com estimativas da FAO-ONU, nosso planeta terá nove bilhões de habitantes até 2050, sendo assim, o Brasil precisará aumentar sua produção de alimentos em 40% para atender a demanda mundial de crescimento. Dessa maneira, cabe ressaltar que são poucas as áreas para expansão agropecuária no país. Neste contexto, a futura oferta de alimentos para a crescente demanda populacional ocorrerá dos ganhos na produtividade e/ou ocupação e recuperação das áreas agrícolas ainda virgens ou até mesmo das degradadas.
Os Cerrados do Brasil possuem mais de 200 milhões de hectares sendo considerada a maior área contínua do planeta para produção de alimentos. Além disso, possuem características importantes que viabilizam tal produção, sendo estas: boa luminosidade, pequena variação de temperatura ao longo das estações, bom regime pluvial (em torno de seis a sete meses no ano), riqueza em disponibilidade hídrica (presença de mananciais hídricos) e predominância de relevo plano, o que possibilita a mecanização. Entretanto, grande partes dos solos estão degradados e/ou apresentam acidez, alta toxidez de alumínio e baixa fertilidade, portanto para a implantação da cultura neste bioma é necessário a correção do solo. Dessa maneira, a exploração do cerrado se torna um importante elo na construção de uma agricultura altamente produtiva e que atenda a demanda do crescimento populacional.
Entretanto, no mercado globalizado as altas produtividades nem sempre são suficientes para competitividade e consequente lucro ao produtor. Sendo assim, o produtor brasileiro terá quatro grandes desafios: recuperar as pastagens degradadas, reduzir os custos de produção, agregar valor ao produto e utilizar suas áreas agricultáveis durante todo o ano. Neste contexto, a utilização do sistema de integração lavoura pecuária (figura 1) associado ao sistema de plantio direto se torna uma solução.
Figura 1- Sistema de integração lavoura pecuária.
Sistema Barreirão
Existem diversas formas de se aplicar o sistema de integração lavoura pecuária dentro da propriedade, uma dessas é o Sistema Barreirão. Esta é uma tecnologia de renovação/recuperação de pastagens em consórcio simultâneo com as culturas anuais. Esse sistema foi desenvolvido na década de 80 pela Embrapa, com ele foi possível recuperar e reformar imensas áreas com pastagens degradadas e obteve grandes resultados quando se consorciou arroz de terras altas e milho com as forrageiras. Atualmente, o “barreirão” tem sido bastante utilizado para servir como ponte para a implantação da integração lavoura pecuária (ILP).
Para implantação deste sistema alguns pontos devem ser seguidos para que se alcance bons resultados;
- Correção da acidez dos solos: através do resultado (análise) de amostragens realizadas de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm e com a orientação de um profissional fazer as correções necessárias (é interessante a utilização da associação de calcário e gesso) para isto é importante que se respeite o período de 90 dias para que toda reação do calcário ocorra.
- Atender as demandas nutricionais da cultura: é importante realizar as análises nos solos que serão cultivados para que se possa chegar a uma fertilidade boa para o crescimento e desenvolvimento da cultura escolhida.
- A aração em profundidade com arado de aiveca é uma importante característica do sistema, esta atua em: condicionar as propriedades físicas e químicas do solo rompendo camadas compactadas; revolver o solo para que haja incorporação profunda de corretivos; destruir plantas daninhas para que não atrapalhem o desenvolvimento das espécies que serão cultivadas e entre outros.
- Plantio: o plantio da cultura anual são os tradicionais, vamos adotar o milho para melhor exemplificar. Caso adote o plantio simultâneo, de acordo com a espécie forrageira as sementes destas podem ser misturadas ao adubo do milho. Deve-se atentar a mistura feita no dia do plantio e regular adequadamente a profundidade de deposição do adubo e sementes para maior profundidade respeitando a especificações da forrageira adotada. É interessante estabelecer até duas linhas adicionais de forrageira nas entrelinhas do milho para melhor formação da pastagem, entretanto isso vai depender do maquinário a ser utilizado. Sabe-se que a adoção de menores espaçamentos na cultura anual pode possibilitar melhor e mais rápida formação de cobertura do solo. Outra maneira que se pode adotar para o plantio é a semeadura das forrageiras de 15 a 30 dias após a emergência do milho, dessa maneira o milho é plantado solteiro e a forrageira é semeada junto com a adubação de cobertura.
Os benefícios deste sistema são inúmeros. Um diagnóstico realizado por Yokoyama e al.(1998) relatou que a adoção do sistema barreirão aumentou significativamente a qualidade das pastagens, principalmente na entressafra o que resultou em uma maior lotação animal. As produtividades das culturas principais do sistema (arroz de terras altas e milho) consorciadas com forrageiras dentro do sistema, foram crescentes ao longo dos anos (tabela 2) e superiores à média brasileira para as culturas no sistema de cultivo solteiro resultando em maior obtenção de lucro. Entretanto, em áreas de primeiro cultivo ou sob pastagem degradada, nas quais não propiciam boa produtividade do milho é interessante a aquisição de variedades ou híbridos duplos, o que resultam em economia na compra de sementes. Também é importante a realização de tratamento de sementes para prevenir ataque de patógenos.
Tabela 2- Aumento da produtividade ao longo das safras pelas culturas utilizadas no sistema barreirão.
Dessa maneira, é possível concluir que o sistema de integração lavoura pecuária traz inúmeros benefícios para a agropecuária. Sendo assim, esta se torna importante para o produtor quando se deseja produtividade e competitividade, uma vez que o sistema atua na sustentabilidade do agronegócio melhorando os sistemas de produção, preservando o meio ambiente e aumentando a rentabilidade da empresa rural.