Gabriel Castillo
Universidade Federal de Lavras-3rlab
A ferrugem causada pelo fungo Hemileia vastatrix é a principal doença no cafeeiro. Esta causa queda foliar precoce e posterior seca dos ramos produtivos, o que reduz a vida útil produtiva da lavoura, impactando negativamente no desenvolvimento de botões florais, vingamento da florada, desenvolvimento dos frutos e reduzindo a produtividade da próxima safra.
A doença ocorre em todas as regiões produtoras do café no Brasil. No café arábica, onde as condições climáticas são favoráveis à doença, as perdas na produtividade chegam a 35%. Sabe-se que a espécie Coffea canephora (café robusta) apresenta cultivares com resistência, mas os cultivares comerciais dentro da espécie Coffea arabica são mais suscetíveis à doença.
Os principais sintomas são manchas cloróticas translúcidas (figura 1) que medem de um a três milímetros de diâmetro, sendo observadas na face inferior do limbo foliar. A mancha cresce rapidamente atingindo de um a dois cm de diâmetro. Sabe-se que na face inferior desenvolvem-se aglomerações pulverulentas de coloração amarelo-laranja constituídas por uredóspros do patógeno, estes que podem cobrir grande parte do limbo.
Figura 1- Principais sintomas da ferrugem nas folhas do cafeeiro.
As condições ideais para o desenvolvimento da doença são principalmente: temperatura na faixa de 20 a 24 ºC com umidade relativa do ar alta, chuvas freqüentes e ambientes com sombra. Além disso, as condições da lavoura também podem interferir beneficiando o progresso da doença. Podemos citar as seguintes condições:
– Lavouras com maior adensamento (figura 2) ou plantas com muitas hastes favorecem o ambiente através do sombreamento e mantendo umidade;
– Adubações e tratos culturais mal feitos: gerando deficiências nutricionais na planta, tornando-a mais frágil a incidência do patógeno;
– Presença do inóculo da doença em lavouras abandonadas: essas lavouras disseminam, por meio de ventos e chuvas os esporos para as lavouras jovens, antecipando e agravando o ciclo da ferrugem;
– Alta carga pendente: a planta envia a maior parte de seus carboidratos para os frutos, deixando-a com baixos teores e enfraquecidas contra a doença;
Figura 2- Lavoura bastante adensada possibilitando maior incidência da ferrugem.
Alguns fatores devem ser levados em consideração para que se possa tomar medidas de controle desta doença. São estes: alto potencial inoculo inicial, cargas pendentes dos frutos, densidade foliar das plantas e o clima.
Controle químico
Atualmente no mercado, existem diversos defensivos que podem ser utilizados no controle da ferrugem no cafeeiro. Estes podem ser divididos em três grupos distintos quanto ao modo de ação:
- Erradicantes ou desinfestantes: enxofre;
- Protetores ou preventivos: cúpricos, ditiocarbamatos e estrobirulinas;
- Curativos ou terapêuticos: benzimidazóis e triazóis.
Durante muito tempo, o controle da ferrugem no cafeeiro era feito pela aplicação de fungicidas cúpricos, tais como oxicloreto de cobre e hidróxido de cobre. Entretanto, estes fungicidas entram no grupo dos protetores, dessa maneira quando já havia incidência da doença estes apresentam resultados insignificantes. Sendo assim, foram substituídos pelos fungicidas do grupo dos curativo-terapêuticos, estes que se movem nas plantas pelo xilema, ou seja, são sistêmicos e atuam de maneira curativa dentro da folha, diminuindo a esporulação. Após o surgimento dos triazóis, vieram as estrobirulinas, estes que são desenvolvidos a base de um cogumelo, atuam de maneira preventiva e são movidos na planta de forma mesostêmica (translaminar).
Hoje, existem no mercado diversos produtos de uso via solo a base de triazóis+ inseticida do grupo dos neonicotinóides. Estes que além de controlar a ferrugem, também combatem o bicho mineiro e cigarras.
Atualmente, o esquema de controle que vem apresentando melhores resultados é o uso integrado de fungicidas sistêmicos aplicados via solo ou foliar, misturado ou associado aos fungicidas cúpricos, sendo uma estratégia bastante interessante e eficaz. Nessa mistura, utilizam-se os fungicidas sistêmicos do grupo dos triazóis em conjunto com fungicidas cúpricos (exemplo: calda viçosa). Essa mistura, além de combater a doença de maneira eficiente, tem mostrado um aumento na produtividade da lavoura, tornando a estratégia economicamente viável. Além disso, essa estratégia traz benefícios como: melhoria na ação residual, sendo necessário menor número de pulverizações; melhoria no estado nutricional da planta fazendo com que o cobre entre na nutrição da planta como micronutriente e na redução da pressão de seleção que os fungicidas sistêmicos exercem na população do patógeno.