Lucas Machado
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
A clorose variegada dos citros (CVC), popularmente conhecida como Amarelinho dos Citros, é uma das doenças que representa grande importância na citricultura do Brasil. Identificada pela primeira vez em 1987, no Estado de São Paulo (norte e noroeste) e posteriormente em Minas Gerais (triângulo mineiro). A CVC se espalhou rapidamente pelas regiões produtoras de citros e atualmente encontra-se em quase todos os estados brasileiros produtores.
A doença é causada pela bactéria Xylella fastidiosa, que atinge todas as variedades comerciais de citros. Atuando no xilema (tecido condutor) da planta, a bactéria obstrui os vasos condutores de água e nutrientes da raiz para a copa da planta. A bactéria também causa doenças importantes em várias outras frutíferas, como: videira, pessegueiro, ameixeira, amoreira, entre outras.
A Xylella fastidiosa é transmitida para a planta por doze espécies de cigarrinhas, que ao se alimentarem no xilema de plantas contaminadas, adquirirem a bactéria e transmitem para plantas sadias (figura 1).
Figura 1 Cigarrinhas vetoras da bactéria Xylella fastidiosa. A- Dilobopterus costalimai Young; B- Ferrariana trivittata (Signoret); C- Homalodisca ignorata Melichar; D- Fingeriana dubia Cavichioli; E- Macugonalia leucomelas (Walker); F- Acrogonia citrina Marucci & Cavichioli; G- Oncometopia facialis (Signoret); H- Plesiommata corniculata Young; I- Acrogonia virescens (Metcalf); J- Bucephalogonia xanthophis (Berg); K- Parathona gratiosa (Blanchard); L- Sonesimia grossa (Signoret). Fotos: James Tunner Amgueddfa Cymru – National Museum Wales. Fonte: EntomoBrasilis.
Os sintomas da doença são mais aparentes durante o período seco do ano. Eles surgem devido a obstrução dos vasos condutores e aparecem primeiro na parte superior e mediano da copa e depois se distribuem para o restante da planta. Inicialmente, as folhas apresentam uma clorose na face adaxial (superior), similar à deficiência de zinco, e pequenas manchas de cor palha na face abaxial (inferior), semelhantes às manchas que ocorrem por toxicidade de boro (figura 2). Essas pontuações de cor marrom-claro podem evoluir para uma tonalidade mais escura e se tornarem necróticas.
Quando a doença se espalha por toda a planta, os sintomas mais característicos ocorrem nos frutos de ramos afetados, apresentando desenvolvimento comprometido, tamanho reduzido, endurecidos e com amarelecimento precoce. Os frutos afetados pela CVC não são aproveitados para o comércio e indústria de suco.
Ainda não há uma forma eficaz para controlar a bactéria Xylella fastidiosa, sendo assim, o mais recomendado aos produtores é a adoção do manejo correto, que consiste em três estratégias: utilização de mudas sadias, poda de ramos com sintomas iniciais em plantas com mais de dois anos e erradicação das plantas mais novas e controle das cigarrinhas.
Mudas
Obter mudas que estejam livres da doença é o primeiro passo para ter uma lavoura sadia. Para isso, é importante verificar se o viveiro é certificado e respeita as regras sanitárias estabelecidas pela Secretaria de Agricultura do Estado em questão.
Poda
A poda evita a disseminação da bactéria na planta e elimina as fontes de inóculo, sendo uma das mais importantes medidas de controle da CVC. Recomenda-se fazer a poda assim que forem identificados os primeiros sinais da doença. Em casos onde os sintomas são mais severos, o recomendado é erradicar a árvore, porque a bactéria já está presente em toda a planta.
Etapas para realização da poda
Inspeção – Inspecionar e identificar os ramos com sintomas de CVC. O mais recomendável é que as inspeções sejam feitas entre os meses de janeiro e julho, época em que a doença fica mais evidente.
Identificação – O galho com sintoma deve ser identificado com uma marca ou fita, para que a eliminação seja feita o mais rápido possível.
Poda – O corte deve ser feito em uma forquilha, com no mínimo 70 cm de distância dos sintomas.
Proteção – Proteger o corte resultante da poda aplicando calda bordalesa (solução a base de cobre e água), que tem como objetivo vedar o corte, impedindo a entrada de patógenos (figura 3).
Monitoramento e controle de cigarrinhas
Existem várias técnicas de amostragem da população de cigarrinhas, entre elas a armadilha adesiva amarela, a observação visual e a rede entomológica (puçá). O recomendado é inspecionar o número de plantas correspondente de 1% a 2% do número total de plantas do pomar. O controle químico deve ser realizado quando 10% das plantas de um talhão estiverem com cigarrinhas, independente da espécie.
Conscientizar o produtor a adquirir mudas sadias, realizar as podas no momento certo, erradicar as plantas quando for necessário e controlar as cigarrinhas é primordial para manter a lavoura livre da doença ou pelo menos controlada. É importante salientar que nenhuma das ações de manejo será eficiente se for adotada isoladamente.