Pedro Felipe Martins da Silva UFLA – 3rlab
Nesse último capítulo do nosso estudo iremos abordar os temas referentes à rotação de culturas, ao manejo de pragas e doenças, distúrbios fisiológicos e produtividade no cultivo do tomate orgânico.
- Rotação de culturas
A prática de rotação de culturas em sistemas de produção orgânica é de caráter obrigatório, pois a mesma possibilita ao sistema melhor aproveitamento das adubações, quebra de ciclo de pragas de doenças e diversidade na renda para o produtor.
No caso do cultivo do tomate orgânico devemos evitar ao máximo realizar rotações com culturas que sejam da mesma família botânica do tomateiro (solanáceas), essa recomendação é extremamente importante quando se deseja interromper ciclos de pragas e doenças. De maneira geral devemos preferir culturas que apresentam o ciclo de produção relativamente curto, que tenham o sistema radicular bem desenvolvido e ramificado e que tenha baixo custo de implantação, nesse sentido é comum verificarmos no campo a rotação com o feijão de vagem, crotalária para adubação verde e milho.
- Manejo das principais pragas
O aparecimento de determinada praga, varia muito de localização para localização, existem inúmeros fatores que interferem na incidência dessas pragas, como por exemplo: a presença de inimigos naturais, manejo do uso de agroquímicos em cultivos convencionais, a presença de lavouras que determina a pressão de ataque e dentre outros fatores.
Em sistemas de cultivo orgânico do tomateiro as principais pragas são: broca pequena, broca grande (figura 1), traça do tomateiro, percevejo rendado, cochonilha e mosca branca. Para o efetivo sucesso da lavoura, é necessário que realizem esforços no sentido de evitar o ataque desses insetos. A vedação da estufa com telas nas laterais e o constante monitoramento são práticas essenciais que permitem o sucesso do cultivo.
Para o controle das brocas e da traça, são utilizados produtos à base de Bt (Bacillus thuringiensis), que apresentam bom efeito principalmente na fase inicial do ataque, porém antes de proceder a aplicação de tal produto é necessário checar se a população da determinada praga alcançou o nível de controle. Para o controle do percevejo rendado, cochonilhas e da mosca branca (estas duas últimas potencias disseminadoras de viroses), é indicado a catação no início do possível ataque e quando detectada a ocorrência desses insetos nas lavouras é necessário o uso de iscas atrativas para o combate.
Figura 1– Aspecto do fruto atacado pela broca grande.
- Manejo das principais doenças
Diversos patógenos podem afetar o tomateiro, a ocorrência dos mesmos variam de acordo com as condições ambientais, manejo da lavoura e a presença do inóculo inicial na área. Nesse artigo iremos abordar a requeima (Phytophtora infestans) e a murcha bacteriana (Ralstonia solanacearum).
A requeima no tomateiro é uma doença extremamente crítica em épocas do ano com baixa temperatura e alta umidade. Em estufas recomenda-se que se evite a umidade relativa alta (aumento da disseminação do patógeno) e evite o adensamento da cultura. Os sintomas típicos são grandes manchas escuras e encharcadas nas folhas e nos frutos ocorrem rápida podridão. Além das inspeções nas estufas a pulverização de calda bordalesa nas estufas semanalmente desfavorecem o surgimento desse patógeno.
A murcha bacteriana é uma doença bacteriana muito crítica no cultivo de solanáceas. Sua maior ocorrência está associada em áreas onde o cultivo de solanáceas é recorrente em épocas do ano com temperaturas quentes e alta umidade no solo. Uma forma de combater o surgimento desse grave problema nas lavouras seria realizar rotações de cultura com espécies não hospedeiras, evitar causar ferimentos nas plantas, e utilizar soluções sanificantes nas operações de desbrotas para evitar a disseminação. A doença é identificada nas estufas pela murcha repentina e exsudação do pus bacteriano.
- Distúrbios fisiológicos
Os principais distúrbios fisiológicos no tomateiro são: podridão apical ou fundo preto (figura 2), abortamento de flores e rachaduras nos frutos. A seguir iremos abordar as principais causas desses determinados distúrbios.
A podridão apical ou findo preto é um distúrbio fisiológico muito comum em culturas que apresentam um rápido desenvolvimento do tamanho dos frutos, tal problema está relacionado ao baixo suprimento de cálcio para as novas partes dos frutos. Geralmente a carência de cálcio está associada a lavouras que não receberam uma correta calagem ou que os solos dessas lavouras estejam encharcados (não há absolvição de cálcio). Em casos que a podridão apical já é uma realidade deve-se proceder a retirada dos frutos danificados a fim de ajustar o suprimento de cálcio com a demanda por parte dos frutos. A aplicação de cálcio pode ser realizada via foliar, porém devemos levar em consideração que o mesmo apresenta baixa mobilidade na planta e, portanto, as aplicações devem ser dirigidas diretamente no fruto.
O abortamento de flores é típico de regiões que apresentam o verão muito quente e também quando há excesso de adubação nitrogenada. Vale a pena ressaltar que a taxa de abortamento é variável de acordo com a cultivar, portanto, para que se evite tal problema devemos nos atentar ao equilíbrio nutricional da lavoura.
As rachaduras dos frutos é um grande problema no tomateiro, principalmente associado a incidência de temperaturas elevadas, deficiência de potássio e irrigação de forma inconstante. O bom manejo da irrigação e nutricional e o uso de cultivares adaptadas as condições da região resolvem o problema.
Figura 2– Aspecto das podridão apical.
- Produtividade
Fica claro que a produtividade final é determinada por inúmeros fatores inerentes ao sistema produtivo. De acordo com dados experimentais no cultivo de tomate orgânico a produtividade média alcançada foi de aproximadamente de 3 Kg de fruto comercial por planta ou 150 caixas a cada 1000 plantas. Levando em consideração a rotação de cultura é possível realizar 3 cultivos de tomate a cada 2 anos.
De acordo com todos os tópicos abordados durante o estudo, fica claro que é possível a produção de tomates orgânicos em todo as regiões, porém antes da implantação dos mesmos é necessário o planejamento da atividade incluído os potencias riscos, oportunidades e ameaças.