Cecília Donata Silva de Oliveira¹
Pedro Henrique Inácio Gomes² – Mestrando em Nutrição e Produção de Suínos.
O sistema de criação de suínos em cama sobreposta veio como uma alternativa aos sistemas convencionais de produção e tem como propósito final maior facilidade no tratamento dos dejetos, menor poder de poluição, proporcionar maior conforto e bem-estar aos suínos.
Esse sistema consiste na utilização de uma cama (substrato orgânico) sobre o piso da instalação, a cama pode ser formada por maravalha, casca de arroz ou casca de café. A urina e as fezes dos animais se misturam com o material da cama sendo submetida a um processo de compostagem, além de proporcionar bem-estar aos animais, a cama após o processo de compostagem se torna uma excelente fonte de adubo orgânico.
Ao implantar esse sistema em sua granja a atenção em alguns pontos se torna crucial para obter resultados satisfatórios, como maior altura do pé direito e maior ventilação; maior disponibilidade de água; disponibilidade de um substrato de boa qualidade para a cama. Esses cuidados surgem até mesmo antes de construir a instalação, na escolha de um terreno plano, arejado e de fácil acesso.
Para cobertura das instalações deve-se optar por materiais que minimizem os efeitos da radiação solar, retardando a passagem do calor para o interior.
Manejo da cama
O número de animais por baia deve seguir as recomendações respeitando o limite de (1,2 m²/suíno) e a diferença máxima de idade entre os animais de 1 semana, para manter a temperatura da cama amenizada possibilitando um maior conforto térmico e posteriormente bem-estar para os suínos, a altura da cama em regiões quentes deverá seguir a recomendação 25 à 30cm.
Neste caso, a manutenção de parte da cama torna-se importante. Adicionando mais substrato, essa prática pode ser benéfica, pois como parte da cama já possui microorganismos o processo de compostagem será mais rápido e pulverulência será reduzida.
O revolvimento da cama é realizado frequentemente para que não ocorra o acúmulo dos resíduos (fezes e urina) em pontos específicos e a cama esteja o mais homogênea possível, contudo a prática de revólver libera calor no meio, no verão uso de modificações secundárias como aspersores e ventiladores minimizam o calor gerado dentro das instalaçõe.
Já em períodos frios talvez podemos utilizar o revolvimento de forma estratégica, para proporcionar um ambiente confortável para os suínos, o revolvimento pode ser realizado no momento de saída dos lotes e próprios animais também podem auxiliar no processo de renovar a cama.
O revolvimento também sofre variações de acordo com a fase de criação e densidade de animais no lote, podendo variar conforme a necessidade que é observada na granja. Um exemplo é quando os animais começam a urinar e defecar apenas em um ponto, fazendo-se necessário o revolvimento para a homogenização de toda a cama.
Já para locais de climas quentes podemos ressaltar o oposto, a implantação do sistema de cama sobreposta não deve se iniciar nos períodos quentes do ano, pois nos dois primeiros lotes a cama alcança os maiores picos de temperatura e seria importante o uso de aspersores e ventiladores para reduzir os efeitos das altas temperaturas. O uso de aspersores deve ser estratégico para que não molhe a cama e não comprometa o processo de compostagem.
A retirada completa da cama, orienta-se que seja realizada anualmente ou quando ocorrer problemas pelo manejo incorreto e excesso de umidade. Para fases de crescimento e terminação recomenda-se a troca anual de 30% da cama por um novo material. Outro ponto que podemos observar é a coloração da cama, quando esta tende ao marron-claro e marrom escuro podemos associar que o processo de compostagem ocorre normalmente, já quando a mesma apresenta coloração tendendo para o preto significa que o processo de compostagem ocorre lentamente reduzindo a produção de calor. A temperatura da cama pode ser um indicativo do momento de sua troca, quando esta for inferior a 20°C ou se mantiver a mesma temperatura ambiente.
Principais aspectos positivos do sistema de cama sobreposta
- Menor custo de investimento quando comparado a sistemas convencionais;
- Maior conforto e bem-estar dos animais;
- Aproveitamento do composto gerado pelo sistema como adubo orgânico;
- Aproveitamento de resíduos (maravalha, palha, casca de arroz) existentes nas áreas de produção, para a formação da cama;
- Redução em mais de 50% da emissão de amônia (NH3) e de odores produzidos no sistema em comparação ao piso ripado;
- Menor tempo e custo de mão de obra para manejo dos dejetos gerado;
- Redução do consumo de água para a limpeza de instalações.
Principais aspectos negativos do sistema de cama sobreposta
- Maior consumo de água de bebida durante o verão (+15%);
- Requer maiores cuidados e necessidade de ventilação das instalações;
- Requer maiores cuidados sanitários para com os animais.
Tabela 1 – Médias de ganho de peso (kg) de suínos criados com diferentes resíduos utilizados como cama sobreposta de acordo com tratamento e época do ano
Fonte: Adaptado – Corrêa (1998)
De fato o sistema de cama sobreposta pode ser uma alternativa que confere beneficios na produção e no bem-estar dos suínos que são criados nesse sistema , os quais podemos citar, efeitos benéficos sobre a produtividade dos animais, redução do estresse, redução de agentes poluentes e a obtenção de um excelente fertilizante orgânico.
A implantação do sistema de cama sobreposta pode ser uma alternativa viável para pequenos produtores, devido ao seu custo reduzido de implantação, disponibilidade do substrato que irá compor a cama e facilidade no manejo da mesma.
Referências:
- SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DA SUINOCULTURA. Por: Paulo Armando V. de Oliveira e Maria Luisa A. Nunes. Disponível em:
http://www.cnpsa.embrapa.br/sgc/sgc_publicacoes/anais0205_oliveira.pdf
- Sistema Alternativo de Criação de Suínos em Cama Sobreposta para Agricultura Familiar. Por: Osmar A. Dalla Costa, Paulo A V. de Oliveira, Carmo Holdefer, Elder Joel Coelho Lopes, Vicente Sangoi. Disponível em:
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/962451/1/DCOT419.pdf